Monday, November 21, 2005

Sobre a (não) finalidade da Filosofia



«O progresso talha caminhos direitos; mas os caminhos tortuosos sem progresso são os caminhos do Génio.» (W.Blake, Marriage of Heaven and Hell, 1793)



A Filosofia é um fim em si mesma ou será um meio para um fim? Se optarmos pela última hipótese temos de referir que fim é esse para o qual a Filosofia é um meio. Esse fim é conhecermo-nos a nós mesmo. Pelo menos para isso, se é algo mais é o que averiguaremos mais à frente.
Também podemos dizer que a Filosofia se esgota em si mesma, que o amor à sabedoria, a constante busca dela é o móbil que nos faz viver. Todos queremos ser felizes e tentamos fazer aquilo que nos aproxime mais da felicidade. Ora, o filósofo não é diferente dos restantes homens. Portanto, quando o filósofo busca a sabedoria não é pela sabedoria em si, mas sim porque saber lhe dá prazer. Ele é feliz ou está mais próximo da felicidade vivendo constantemente a procurar saber mais. O filósofo não esgota a sabedoria, pois há sempre algo mais que ainda não se sabe; tem um oceano imenso onde navegar.
Quando tomamos a Filosofia como um meio para alcançarmos a verdade ela tem a missão de auxiliar. Mas que verdade é esta? Alguns diriam ou que ela não existe, pois apenas existem verdades particulares; ou que ela existe, mas que não a conseguimos alcançar devido às nossas limitações.
Também aquele que toma a Filosofia como um meio procura. Procura a verdade e vai encontrando pistas dela aqui e ali. Esta procura, de pista em pista, é, também para esses, um móbil, algo que os faz levantar todos os dias.
Afirmar que encontramos aquilo que procurávamos – a verdade – é uma grande responsabilidade e é, até mesmo, um acto de coragem, de rectitudo cordis. Muitos preferem manter-se na busca, pois julgam que se encontrarem estagnarão. São uma espécie de gnósticos.
Julgava que quando nos deparássemos com a verdade ela imediatamente nos fulminaria e acabaria ali a existência. Que sentido teria existir depois de se ter encontrado a causa de existir? Já a tínhamos, já a conhecíamos. Depois poderiamos reduzir-nos ao nada! Mas tal não acontece. Continuamos a viver! Como os apóstolos, pensamos montar três tendas e ficar por ali, mas acabamos por ter de descer.
Vejamos os prisioneiros da caverna. Também eles ficavam deslumbrados com a nitidez das sombras, só quando um deles se libertou e viu a origem daquelas sombras é que percebeu quanto tempo tinha andado a tomar por real aquilo que era uma aparência do real. Antes de se introduzir um segundo elemento que permite a comparação tudo é perfeito, mas depois de conhecermos o segundo termo é que podemos avaliar com propriedade a realidade. Mas, ainda não dissemos que verdade é esta que a Filosofia procura: esta Verdade é Cristo. Este preceito é como um porto. Tal como o porto, é um ponto de chegada, mas também é um ponto de partida.
Há uma analogia entre o "Ide e anunciai" e o facto de Platão, na República, defender que o político (filósofo) tem de ir, de descer para libertar os prisioneiros que se mantêm no fundo da caverna. São duas missões e bem parecidas.

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